HOLGER KERSTEN
Jesus viveu na índia
A desconhecida história de Cristo antes e depois da Crucificação
Tradução de CECÍLIA CASAS
EDITORA BEST SELLER
Prefácio
Por mera casualidade, em 1973 tomei conhecimento da teoria de que Jesus teria vivido na índia. Não dei crédito, mas senti que não tinha opinião formada sobre o assunto e procurei acompanhar passo a passo a vida real de Jesus. Logo de início deparei com o problema da falta de fontes de informação ao alcance do pesquisador e que pudessem confirmar a existência histórica de Jesus. Quem de fato era esse homem? De onde veio? Para onde foi? Por que parecia tão estranho e misterioso aos olhos de seus contemporâneos? O que, afinal, pretendia?
No curso de minhas pesquisas, cheguei finalmente à índia, entrando em contato com pessoas profundamente interessadas na questão da presença de Jesus naquele país. Delas recebi um número incalculável de surpreendentes e valiosas informações, além de muito incentivo.
Neste livro procurei evitar um estilo demasiadamente acadêmico, para não impedir a compreensão do conteúdo simples e lógico do texto, mas sem perder de vista os detalhes. Muitas de suas declarações podem parecer ousadas e outras até improváveis. Esta obra abrirá um vasto campo de investigações em muitas áreas afins, impossível de ser esgotado pelo trabalho de um só indivíduo.
Além disso, desafia as igrejas institucionalizadas a examinarem ad absurdum — se puderem — as teses nela contidas e a provarem o contrário. Será interessante acompanhar a reação das igrejas diante disso! Meu desejo — e meu objetivo — não é minar o ponto de vista cristão, nem colocar o leitor diante de um amontoado de elementos de uma crença fragmentada.
O mais importante é reencontrar a trilha que conduz às fontes, à eterna e central verdade da mensagem de Cristo, esfacelada pelas ambições profanas de organizações mais ou menos laicizadas, que se arrogam uma autoridade religiosa.
Este livro, portanto, não proclama uma nova fé, mas apenas tenta abrir passagem para um futuro firmemente alicerçado nas verdadeiras fontes espirituais e religiosas do passado.
Introdução
Não penses que estou inventando mentiras, Ergue-te e prova o contrário! A história eclesiástica, em sua totalidade, Não passa de uma trama de erro e de poder.
Johann Wolfgang von Goethe.
Holger Kersten, Freiburg im Breisgau, março de 1983
Levei mais de dois anos para realizar a versão inglesa de Jesus Viveu na índia, uma obra que, na Alemanha, já está na sétima edição. Esta tradução foi revista e atualizada diversas vezes para conformar-se a dados mais recentes. Fui informado de que meu estilo poderia estranhar a um leitor inglês; no entanto, minha única intenção foi apresentar com clareza minhas convicções sem atenuar os fatos. Sei que posso contar com a tolerância e a compreensão desse público. Sobretudo, considerando que a Inglaterra é um país onde um bispo (rev. David Jenkins, bispo de Dur-ham) tem a coragem de discorrer, no sermão da Páscoa, sobre duvidas pessoais a respeito do tradicional dogma da ressurreição do corpo de Cristo. (Daily Telegraph, 30 de março de 1985.)
H. K., setembro de 1986
A emergência da ciência e da tecnologia foi acompanhada por uma rápida secularização do nosso mundo e por uma recessão religiosa. A glorificação do racionalismo e o desejo de encontrar uma resposta para cada aspecto da existência humana levaram, inexoravelmente, a graves perdas no campo da vida mística, religiosa e emocional, inclusive em termos de "humanidade". Dentre os responsáveis pelo aumento do abismo entre religião e ciência, fé e conhecimento, está a postura das igrejas institucionalizadas. Temendo perder influência nas esferas seculares, impuseram abusivamente sua autoridade no campo do conhecimento empírico. Este fato aprofundou ainda mais a necessidade de uma maior diferenciação no campo da autoridade. O cisma entre pensamento científico e fé colocou o homem moderno diante de uma dicotomia aparentemente intransponível.
Os sentimentos espirituais se restringem cada vez mais com o crescimento do contingente daqueles que duvidam da verdade da mensagem de Cristo, e das discussões em torno da doutrina cristã. Até mesmo dogmas fundamentais sustentados pela tradição eclesiástica, como Deus, Cristo, Igreja e Revelação se transformaram em objeto de veementes debates entre leigos e teólogos, indistintamente. Quando o cerne e a base dos ensinamentos religiosos não são mais aceitos como pura verdade, nem mesmo pela própria elite e direção da Igreja, o cristianismo tradicional caminha, indubitavelmente, para o seu fim. É sintomática a realidade dos bancos vazios apontada por uma estatística de 1979: somente um em três cidadãos da República Federal da Alemanha concorda com os ensinamentos das igrejas cristãs, ao passo que 77% acham possível ser cristão sem pertencer a nenhuma igreja. Dentro dos segmentos da população consultada, a maioria não acreditava em Cristo como o "emissário divino" enviado por Deus. E isso ocorre porque as igrejas institucionalizadas, por medo, falharam, deixando de informar seus fiéis sobre os progressos no campo do cristianismo e de dar um enfoque histórico e crítico à religião. A insistência na interpretação literal da Bíblia e na cega observância dos dogmas propiciou o declínio do cristianismo eclesiástico, mesmo entre aqueles que não tinham uma postura frontalmente anti-religiosa ou anticristã.
Realmente, o que chamamos hoje de cristianismo tem pouco a ver com os preceitos de Jesus e as idéias que ele desejava difundir. O que temos atualmente seria melhor designado pelo nome de "paulinismo". Muitos princípios doutrinários não se conformam absolutamente com a mensagem de Cristo. São, na verdade, antes de tudo, um legado de Paulo, que tinha um modo de pensar radicalmente oposto àquele de Jesus. O cristianismo que conhecemos desenvolveu-se a partir do momento em que o "paulinismo" foi aceito como religião oficial. O teólogo protestante Manfred Mezger cita, a respeito, Emil Brunner: "Para Emil Brunner a Igreja é um grande mal-entendido. De um testemunho construiu-se uma doutrina; da livre comunhão, um corpo jurídico; da livre associação, uma máquina hierárquica. Pode-se afirmar que, em cada um de seus elementos e na sua totalidade, tornou-se, exatamente, o oposto do que se esperava". Por isso é válido questionar as bases que alicerçam a legitimidade das instituições vigentes. Uma pessoa que freqüenta uma igreja cristã não pode deixar de assumir uma postura crítica, frente à proliferação de obscuros artigos de fé, e dos deveres e obrigações que a envolvem. Sem termos tido outros conhecimentos, e por termos crescido sob a única e exclusiva influência do estabelecido, somos levados a acreditar que, por subsistirem a tanto tempo, devem, necessariamente, ser verdade.
Um homem surgiu no horizonte sombrio, trazendo uma mensagem cheia de esperança, de amor e bondade, e o que a humanidade fez com isso? Transformou tudo em papel, verbosidade, negócio e poder! Será que Jesus quis que tudo isso fosse feito em seu nome? Dois mil anos transcorreram desde que o audacioso Jesus tentou, pela primeira vez na história da humanidade, libertar os homens do jugo oficial das igrejas, caracterizado por burocracia, leis e figuras eminentes, por inflexibilidade, conflito em matéria de exegese, por hierarquia e sua reivindicação de autoridade absoluta, pelo culto, idolatria e sectarismo. Jesus queria uma comunicação direta entre Deus e a humanidade e nunca tencionou patrocinar ambiciosas carreiras eclesiásticas.
Hoje já não ouvimos diretamente a voz de Jesus em sua forma natural. Ela é mediada por especialistas privilegiados e pela arbitrariedade de um corpo profissional. Jesus foi gerenciado, mercadejado, codificado e virou livro. Onde a fé viva e verdadeira foi substituída por crenças mesquinhas e intolerantes, baseadas num racionalismo clerical, os mandamentos de Jesus, de tolerância e amor ao próximo, desapareceram, assomando, em seu lugar, o dogmatismo e o fanatismo. A luta pela supremacia de uma "fé verdadeira" exclusiva deixou um rasto de revezes, violência e sangue no caminho percorrido pelas igrejas. Luta sem tréguas, desde o tempo dos apóstolos até nossos dias, e que ainda constitui o maior empecilho à reconciliação entre os vários credos cristãos.
O teólogo protestante Heinz Zahrnt escreveu: "Fiquei profundamente traumatizado em minha carreira de teólogo. Sinto-me aviltado, humilhado, insultado, desonrado, mas não por ateus, que negam a existência de Deus, nem por gente zombeteira ou incrédula, que, embora indiferente religiosamente, conserva no coração um sentimento de humanidade, mas sim por dogmatistas. Por eles e por seus pastores que seguem apenas a letra dos ensinamentos que consideram ser o único caminho para chegar a Deus. Fui ferido no ponto mais central, no ponto que, apesar de uma profunda melancolia, tem me mantido vivo: minha crença em Deus..."
A confiança no valor das experiências religiosas tende a decrescer com o desenvolvimento das capacidades intelectuais. A crença no racional e no provável ocupou o lugar reservado à fé luminosa e profunda como meio de captar a realidade. No processo de "amadurecimento" da sociedade moderna, o sentimento religioso é relegado ao âmbito do irracional, do improvável e, conseqüentemente, do irreal. Somente o pensamento lógico e a ação parecem determinar a realidade. A medida que cresce o nível educacional, as categorias transcendentais decrescem, deixando de ser objeto de experiências profundas. A principal causa desse equívoco é uma má interpretação do conceito de Deus. O divino não se coloca a uma distância utópica, mas dentro de cada um de nós, inspirando uma vida em harmonia com o Infinito e o reconhecimento de que nossa curta existência não passa de um momento da eternidade, da qual faz parte.
Durante séculos, o homem ocidental foi induzido a considerar-se uma criatura separada de Deus; e hoje, no "esclarecido" século 20, esse mesmo homem parece mais do que nunca incerto quanto às possíveis respostas às mais antigas questões sobre Deus e sobre o sentido da vida. Atualmente florescem em todo o mundo novos centros espirituais que, diante dessas questões, procuram oferecer uma solução não encontrada em uma igreja oficial intransigente. Está surgindo uma espécie de religião universal sincrética que se move na direção de uma plena auto realízação, através da contemplação, autoconhecimento e meditação em busca da iluminação religiosa e do entendimento místico-global da natureza cósmica que existe dentro de cada indivíduo.
O impulso decisivo para esse intimismo da religião nos veio, como sempre, do Oriente, e sobretudo da índia. A humanidade precisa, agora, "reorientar-se", no verdadeiro sentido da palavra; o Oriente é o berço de nossas mais profundas experiências.
Não devemos temer nem a morte de Deus, nem o declínio definitivo da espiritualidade e da moral. Ao invés, devemos aguardar a germinação da semente do espírito, a emergência do interior transcendental que até agora nos tinha sido prometido somente para depois da morte. Não devemos temer o fim da religiosidade, porque está se abrindo silenciosamente em nós a flor de uma consciência mística que não abrange apenas uma elite ou uns poucos "privilegiados", mas todo o contexto ecumênico de uma religião universal. A meta dessa religião não será um mundo "superficial" e transitório, nem colocará excessiva ênfase em aparências, mas se ocupará, inteiramente, em despertar uma espiritualidade baseada em valores transcendentais. Este é o verdadeiro caminho que nos "libertará do mal".
O conhecimento da verdade
destrói todo o mal.
Como o sol que brilha num céu sem nuvens,
o verdadeiro iluminado permanece firme,
apartando os véus da ilusão
Buda
Trecho (página 34 - 37)
O que conhecemos hoje como cristianismo não passa de uma vasta e artificial doutrina de regras e preceitos criados por Paulo, e que pode ser melhor designado pelo nome de "Paulinismo". O historiador eclesiástico Wilhelm Nestle, comentando a questão, diz que: "o cristianismo foi a religião fundada por Paulo, que substituiu o evangelho de Cristo por um evangelho sobre Cristo." 21
Paulinismo, nesse sentido, significa desvirtuamento e mesmo falsificação dos verdadeiros ensinamentos de Jesus por Paulo. Há muito tempo os teólogos modernos e os estudiosos de história da Igreja vêm afirmando abertamente que o cristianismo da Igreja organizada, cuja questão central é a compreensão da salvação como fruto da morte e do sofrimento de Jesus, se apoiou em fundamentos incorretos. "Tudo o que há de bom no cristianismo provém de Jesus e tudo o que há de mau, de Paulo", escreveu o teólogo Overbeck 22. Associando a morte do Unigênito de Deus à redenção de nossos pecados, Paulo retrocedeu às primitivas religiões semíticas, em que os pais deviam imolar seus primogênitos. Paulo também é o responsável pelos dogmas do pecado original e da trindade, posteriormente incorporados pela Igreja.
Já no século 18, o filósofo inglês Lord Bolingbroke (1678-1751) reconhecia, no Novo Testamento, duas religiões completamente diferentes: a de Cristo e a de Paulo 23. Kant, Lessing, Fichte e Schelling também faziam distinção entre os ensinamentos de Jesus e o de seus "discípulos". Um grande número de renomados teólogos modernos aceitam e defendem essa tese.
Paulo, o impaciente zelota, completamente diverso dos primeiros apóstolos, é considerado "um caso típico de intolerância" pelo teólogo Deissmann 24. Ele abriu um profundo abismo entre crentes e incrédulos, passando por cima de muitos dos ensinamentos de Jesus. Colocou Jesus num pedestal e o transformou no Cristo que Jesus nunca quis ser. Se quisermos, porventura, encontrar alguma veracidade dentro do cristianismo, teremos que rejeitar uma série de óbvias falsidades que foram consideradas intocáveis, e voltar aos verdadeiros e puros ensinamentos de Jesus e às questões essenciais da religião. No entanto, é fácil perdoar todas as interpretações de Paulo se considerarmos que, sem ele e outros dogmatistas, hoje não conheceríamos nenhum detalhe sobre Jesus. Sobre isso, o teólogo Grimm diz que: "Por mais enraizados que estejam tais conceitos no pensamento cristão, eles têm pouco a ver com o verdadeiro Jesus" 25.
Conclusões
Resta-nos agora analisar até que ponto as fontes conhecidas podem elucidar a historicidade de Jesus. Os manuscritos descobertos em Ladakh por Nikolai Notovitch podem, indubitavelmente, preencher uma importante, inexplorada e inexplicável lacuna na vida de Cristo. Entretanto, esta descoberta precisa ser bem fundamentada e corretamente apresentada para não ser interpretada como uma tentativa fantástica e repentina de lançar uma luz nas trevas que revestem a origem do cristianismo. Um retrato fiel de Jesus só pode ser obtido através de uma extensa e objetiva investigação histórica, livre do dogmatismo eclesiástico e apoiada nos melhores recursos da pesquisa moderna.
Como professor de religião cristã, tenho tido a oportunidade de verificar que um número cada vez maior de teólogos esclarecidos estão encontrando dificuldades em aceitar determinados "mitos" que lhes foram impostos, tais como o dogma da imaculada concepção ou da morte na cruz, seguida de uma extraordinária ressurreição e ascensão do corpo de Cristo, sobretudo após ter descoberto (somente na universidade) alguns novos elementos a respeito da história dos textos bíblicos. Vêem-se forçados, de uma forma absurda, a calar sobre esses conhecimentos e a continuar a repetir as ingênuas histórias da Bíblia, como se fossem a verdadeira palavra de Deus. Mais recentemente, em 18 de novembro de 1965, a Igreja Católica Romana declarou na revisão de sua constituição dogmática (Vaticano II), seu mais solene e importante documento, que a Bíblia emana diretamente de Deus, o que faz dela um texto santo e canônico nas suas partes e na sua totalidade escrito sob inspiração do Espírito Santo. "Tudo o que foi escrito pelos autores inspirados deve ser considerado como tendo sido escrito pelo Espírito Santo." A Bíblia, para a Igreja, é mestre confiável, infalível e fiel. Milhares de católicos
recebem esse ensinamento e, como bem sabemos, a "fé", na Igreja Católica é um elemento fundamental. Esta postura é particularmente penosa para aqueles que são os responsáveis pela divulgação dos dogmas da Igreja e que estão bem informados sobre o atual estado da questão. Crises pessoais e tragédias humanas são frutos que nascem, invariavelmente, desse conflito.
A direção da Igreja comete quase uma blasfêmia ao conferir autoridade "divina" a textos repletos de erros, omissões, contradições, falhas lógicas, falsas conclusões, equívocos, deficiências, distorções, mal-entendidos, confusões, perjúrios e mentiras óbvias. O bispo anglicano John A. T. Robinson desafiou oficialmente toda a Igreja a expor seu ponto de vista em relação à Bíblia. Um amplo exame dos fundamentos da religião cristã poderia redundar em uma reforma dogmática. A Igreja, porém, ainda parece esquivar-se de qualquer forma de esclarecimento e continua a tratar progressistas corajosos, tais como Küng, o teólogo de Tübingen, de uma forma medieval. E é esta mesma Igreja que exige, e espera de seus adeptos, correção, franqueza, honestidade e amor pela verdade. Isto é ou não é uma fraude? Mas qual a razão disso tudo? Será que a Igreja está interessada no bem-estar das almas dos homens, que só poderão se salvar respeitando o dogma da redenção, ou está simplesmente preocupada em preservar e manter o poder? A Igreja tem procurado, por todos os meios, evitar que o mistério que envolve Jesus seja elucidado, evitando que tenha sucesso qualquer tentativa racional de investigar o fenômeno Cristo.
A verdade sobre Jesus, e sobre o que ele realmente pregava, é mil vezes mais fascinante que todas as histórias inventadas a seu respeito.
Jesus, com certeza, não pregou a institucionalização de uma igreja organizada, reduto de arrogantes neofariseus, sediados na infalibilidade; nem a conversão, sob ameaça de morte ou de eterna danação. Ele nunca aconselhou nem autorizou ninguém a ocupar, na terra, importantes cargos divinos; nunca se considerou a encarnação de Deus; nunca perdoou pecados ou conferiu a outros esse dom, nem nunca prometeu a vinda e a permanência de um Espírito Santo fora dele. Também não pediu a seus discípulos que escrevessem um evangelho; se quisesse ele mesmo o teria feito. O que Jesus realmente desejava? É uma questão difícil de ser resolvida, pois a tradição o apresenta a nós simplesmente como uma figura de grande integridade moral e possuidora de profundos sentimentos humanos e espirituais.
Hoje, mais do que nunca, são atuais as palavras de Albert Schweitzer, pronunciadas em 1913: "O cristianismo moderno tem que encarar a possibilidade do passado histórico de Jesus ser revelado a qualquer momento."26 E Rudolf Butmann acrescenta: "Eu não ficaria nem um pouco chocado se os ossos de Jesus fossem encontrados hoje!" 27
As "lacunas" que caracterizam essa época canonizada pelas crônicas da Igreja poderiam ser providencialmente resolvidas com uma viagem ao Oriente, que tem-se demonstrado muito importante na compreensão dos atuais movimentos espirituais do mundo. Os muçulmanos sempre preservaram a história; isto, juntamente com os vinte séculos de acumulação de documentos hoje em acelerado processo de pesquisa, muito contribuirá para os esclarecimentos desses pontos omissos.
A alma de Jesus está intimamente ligada ao espírito que impregna a atmosfera característica da antiga índia. Vamos, agora, ao encontro desse Jesus Oriental, pois Ex Oriente Lux, do Oriente vem a luz e a promessa.
(...)
Trecho (página 51 - 58)
No sétimo capítulo dos Atos dos Apóstolos, Santo Estevão nos conta, em poucas palavras, como Abraão, o patriarca dos judeus, foi impelido para a terra que o Senhor da glória lhe queria mostrar. Ele saiu "da terra dos caldeus, indo morar em Harã", viajando através da Mesopotâmia. É possível que as tribos nômades, lideradas por Abraão, tenham dado um nome familiar ao lugar onde temporariamente se estabeleceram, a noroeste da Mesopotâmia. Forçado pela fome, o grupo seguiu para o Egito, porque Jacó, o filho de Abraão, soubera que "havia trigo no Egito". Em breve, porém, foi obrigado a retornar à Palestina. Apesar das divergências que caracterizavam o relacionamento entre os filhos de Abraão, isto é, entre Isaac, Esaú e Jacó, com a geração seguinte, o clã se transformou numa tribo unida.
No tempo dos hicsos, os doze filhos de Jacó, abatidos pela fome, retornaram ao Egito, fixando-se, primeiramente, na província de Goshen. Vestígios de agrupamentos semíticos, datados dessa época, foram encontrados a nordeste do delta do Nilo. Para começar, os hebreus se multiplicaram rapidamente, espalharam-se por todo o país, tornando-se ricos, poderosos e influentes. Porém, antes do fim da dinastia dos hicsos, sua posição já tinha se deteriorado devido a conflitos intestinos.
Assim, podemos dizer que a palavra "hebreu" não significava originalmente um grupo nacional ou étnico, mas qualquer pessoa, sem direitos e sem teto permanente, cujo destino era servir aos egípcios, como mão-de-obra barata (mais tarde, foram condenados a trabalhos forçados), como se depreende das fontes que chegaram até nós, datadas dos séculos 13 e 14 a.C. O texto de Êxodo (1,11) narra que os antepassados dos israelitas foram obrigados a construir como escravos as cidades de Piton e Ramsés. Foi por essa época que as tribos semíticas, guiadas por Moisés, deixaram o Egito, rumo à terra de seus ancestrais, a terra abençoada que lhes havia sido prometida pelo Deus Javé.
Manu — Manes — Minos — Moisés
As coisas se tornam mais fáceis e claras se partirmos de algumas figuras representativas das principais linhas culturais do Oriente. No século 19, foi levantada a hipótese de certos paralelos. Assim, na índia antiga, o legislador e político era conhecido pelo nome de Manu. No Egito, por Manes. Minos era o nome do rei de Creta que foi estudar no Egito as leis que ele pretendia introduzir na Grécia. O líder do povo hebreu que nos legou os dez mandamentos chamava-se Moisés.
Manu, Manes, Minos e Moisés, dada a enorme influência que exerceriam na história da humanidade, estavam destinados a mudar a face do mundo. Todos os quatro estatuíram as leis que continuariam a ter força no futuro, alicerçando as sociedades sacerdotais e teocráticas. Todos procederam de acordo com um modelo arquetípico muito mais evidente que as meras semelhanças dos nomes e instituições que eles criaram.
Manu é uma palavra sânscrita que significa "um homem de qualidades excepcionais, um dispensador da lei". Os quatro nomes acima citados têm uma origem sânscrita comum.
Sempre, na aurora de todas as civilizações, surgem seres predestinados a grandes feitos, a conduzir as massas, a mover as engrenagens do progresso ou a governar. Ao invés de se deixarem dominar pela sede de poder que tanta atração exerce sobre pessoas incultas, preferem, como líderes espirituais e culturais, usar do poder que lhes foi concedido, para viver em harmonia com o Ser Supremo que existe na consciência de todos os homens. Envoltos por uma auréola de mistério, suas origens e suas vidas transformam-se em lendas. São chamados "profetas" ou "emissários de Deus" e reformulam as obscuras revelações do passado que só eles sabem interpretar. Em suas mãos habilidosas, toda a realidade pode ser transformada numa manifestação do poder celestial que eles têm condições de invocar ou aplacar. Magos da índia e de Israel podiam, por exemplo, colocar uma serpente em estado catatônico, exibi-la como um cajado diante de todos e depois fazê-la voltar ao seu estado normal. Esse é, aliás, um truque muito popular no repertório dos faquires.
Os adeptos e intérpretes literais das leis de Manu, aliando-se a mais influente casta dos brâmanes e dos sacerdotes, desequilibraram a estrutura social dos Vedas, causando assim o declínio e a ruma de seu povo que, posteriormente, iria ser sufocado sob o corrupto domínio sacerdotal. Da mesma forma, aqueles que documentaram a tradição oral de Moisés, se apegaram, sobretudo, ao comportamento despótico de seus predecessores, quando no governo do povo de Israel (ou filhos de Deus).
Quem Era Moisés?
A etimologia do nome de Moisés é muito discutida. No Egito, mos significa simplesmente criança ou, literalmente, "nasceu" (p. ex. Tutmosis). De acordo com outra interpretação, baseada no hebraico, o nome deriva de mo, água, e useh, salvo, o que corresponde à lenda segundo a qual Moisés foi encontrado flutuando nas águas de um rio, dentro de um cesto de vime (Êxodo 2,10). Quanto ao Moisés
histórico, é impossível estabelecer um quadro preciso dele; a própria tradição deixou muitas questões sem resposta, criando expectativa em torno do argumento.
O Antigo Testamento prova que Moisés não poderia, absolutamente, ser o autor dos cinco livros que lhe são atribuídos. O Pentateuco é resultado de séculos de tradição oral e escrita, derivada de diversas fontes, como se deduz da variedade de estilo, das inúmeras repetições e contradições, e das incompatíveis variações de alguns princípios teológicos básicos. Mas, apesar das sombras projetadas pelo passado, podemos afirmar com segurança que Moisés foi, de fato, um personagem histórico.
É certo que ele cresceu na corte real e foi educado por sacerdotes, que era muito culto e que foi uma pessoa influente em todas as esferas de governo. Moisés utilizou-se de um sincretismo que somava à sã doutrina curiosas práticas mágicas, que combinava com elementos védicos e com elementos da idolatria egípcia. Sua intenção era proclamar a existência de um só Deus, o Deus de Israel, e pôr fim à adoração de todos os outros deuses. Para provar a vontade de Deus (na verdade, a sua) recorria a "milagres". Se a mitologia greco-romana foi descartada como fonte do cristianismo, não foi isso que aconteceu com os textos de Moisés, ainda que seja difícil reconhecer no Deus vingativo descrito por Moisés como um fogo devorador o mesmo Deus do Novo Testamento.
Quem se opusesse à sede de poder de Moisés era impiedosamente destruído. E era geralmente através do fogo que Moisés costumava defender suas convicções, ainda que conhecesse também vários passes de mágicas. Após sua exibição perante os magos egípcios (Êxodo 7 8-13), sua fama de grande feiticeiro chegou até a Grécia. Nos primeiros anos do cristianismo, surgiram alguns livros apócrifos completando o Pentateuco, e que atribuíam o conteúdo mágico desse documento a Moisés. Depois do nascimento de Cristo, foram divulgados o sexto e sétimo livros de Moisés que retomavam a tradição egípcia, apresentando uma série de palavras e preces mágicas feitiçaria e textos de doutrinas secretas de diversas procedências.
Em 1928, Jens Juergens2 publicou uma obra chamada O Moisés Bíblico, onde prova que os sacerdotes egípcios sabiam fabricar a pólvora há mais de 6 000 anos, e que a empregavam em' fogos de artifícios e como uma espécie de luminária bengali. Uma outra informação vem do professor e arqueólogo inglês Flinders Petri, que na sua obra Pesquisas no Sinai, de 1906, nos mostra que Moisés não tinha autoridade somente sobre os templos egípcios, mas também sobre as minas reais do Sinai e, conseqüentemente, sobre a mina de enxofre, de "Gnefru", em atividade a partir do ano 5 000 a.C. Moisés tinha aprendido a fabricar pólvora nos livros secretos sacerdotais e sua composição, à base de enxofre, carvão e salitre, provou ser muito simples do ponto de vista técnico. Assim, quando seus súditos recusavam-se a obedecê-lo nas suas contínuas pregações (Êxodo 18,13), ele enviava um fogo devorador que os fazia curvar-se à sua vontade. (Êxodo, 19,18; 24,17; 33,9; Deuteronômio 4,11; 4,24; 4,33; 4,36; 5,4; 5,5; 5,23; 9,3; 32,22).
Como representante do Deus do Fogo, Moisés exercia um grande poder, e quando o povo se negava a cumprir os sacrifícios exigidos, bastava uma simples demonstração do poder divino para que tudo voltasse ao normal. Veja-se, por exemplo, o incidente do Monte Sinai (Êxodo 19); a morte pelo fogo de 250 pessoas, após a rebelião de Core (Números 16,1-35); e a morte dos milhares de outras em uma tempestade de fogo, por terem se insurgido contra Moisés (Números 16,36- 50).
Os filhos de Aarão foram atingidos fatalmente por uma chama de fogo quando desobedeceram a vontade divina (Levítico 10,1-7); o próprio Moisés sofreu graves queimaduras resultantes, logicamente, de uma explosão e, por ter ficado com o rosto horrivelmente deformado, foi obrigado a cobri-lo com uma atadura especial (Êxodo 34, 29-35).
Moisés continua a ser considerado um grande legislador, porém, é fato sabido que os Dez Mandamentos nada mais eram que o resumo de leis que vigoravam entre povos do Oriente Próximo e da índia, muito antes do nascimento de Moisés, e que eram comuns também na Babilônia, já há 700 anos. A famosa lei do rei babilônico Hamurabi (728-1686 a.C), inspirada no Rig-Veda dos hindus, já continha todos os dez mandamentos.
A idéia de um Deus único, onisciente, invisível, pai do universo, ser de amor e bondade, pai de misericórdia da humanidade e da fé, já existia entre os Vedas e no nórdico Edda, bem antes de Moisés. Até mesmo Zoroastro era abertamente proclamado único.
O papiro de Prissa (mil anos antes de Moisés) narra as seguintes palavras que Deus disse, a respeito de si próprio: "Eu sou o uno invisível, oculto, criador do céu, da terra e de todas as criaturas. Sou o grande Deus incriado e único. Eu sou o passado e conheço o futuro. Sou a essência e a lei universal". No Egito, o princípio de unidade divina era considerado "indescritível" muito antes que Moisés falasse do "inominável". Nukpu Nuk significa "sou aquele que sou" (compara-se este texto com aquele de Êxodo 3,14: "Sou o que sou").
Hoje já não se duvida da existência de Moisés como personagem histórico. No entanto, suas proezas heróicas baseiam-se, em grande parte, em lendas muito mais antigas, como a lenda do deus Baco originalmente árabe. Baco, como Moisés, foi salvo das águas, cruzou o Mar Vermelho a pé enxuto e escreveu leis em tábuas de pedra, tinha exércitos guiados por colunas de fogo e emitia raios de luz pela testa.3
O Rig-Veda nos conta que Rama foi também um grande legislador e um poderoso herói. Há pelo menos 5 000 anos, conduziu seu povo através da Ásia, até a índia, e pelo caminho fez surgir fontes no deserto (cf. Êxodo 17), apresentou a seu povo uma espécie de maná como alimento (cf. Êxodo 16) e dominou uma epidemia graças à soma, uma bebida sagrada chamada também "água da vida" da índia.Finalmente conquistou a "terra prometida" (índia e Ceilão) e invocou uma chuva de fogo contra o rei. Atingiu o Ceilão através de um banco de areia durante a maré baixa em uma localidade até hoje chamada "ponte de Rama". Como Moisés, Rama é descrito com raios de luz saindo da cabeça (os raios da iluminação; veja ilustração). Como Moisés, também Zoroastro (Zaratustra) tinha um fogo sagrado à sua disposição, com o qual ele podia realizar extraordinárias façanhas.
De acordo com escritores gregos, como Êxodos, Aristóteles e Hermundorius, Zoroastro viveu 5 000 anos antes de Moisés. Como Moisés, tinha sangue real, foi tirado de sua mãe e abandonado. Após completar trinta anos, tornou-se o profeta de uma nova religião. Deus, envolto em luz e anunciado pelo som de trovões, apareceu-lhe, sentado em um trono de fogo, na montanha sagrada de "Albordj" e, em meio às chamas, anunciou-lhe sua lei sagrada. Zoroastro e seus adeptos também se colocaram a caminho de uma distante "terra prometida" e, com a ajuda de Deus, atravessaram o mar a pé enxuto.
As narrativas judaicas, com que estamos mais familiarizados, começam com a emigração das tribos de Israel, sob a liderança de Moisés, partindo do Egito em busca de uma nova terra de liberdade. Ainda não existe uma concordância sobre a localização da terra de Goshen (Gosen), onde os israelitas se reuniram inicialmente, mas parece ter sido à margem oriental do delta do Nilo. A Bíblia aponta para uma mudança de faraó nesse período. Este fato coincide com a expulsão dos hicsos no início da décima-oitava dinastia egípcia, sob Amósis I. A melhor rota para seguir rumo à Palestina seria pelo nordeste, partindo do Mar Vermelho. Esta rota, entretanto, estava sob o controle filisteu. Até hoje constitui um mistério o fato de Moisés não ter seguido pela estrada de Beersheba, que seria o local mais seguro para os israelitas. Moisés preferiu o sul, chegando no terceiro mês ao Monte Sinai, onde acredita-se, tenha acontecido a impressionante demonstração Deus do Fogo de Moisés, Javé. Essa montanha é hoje conhecida elo nome de "Jebel-Musha", que significa a "montanha de Moi-s" Segundo a Bíblia, os israelitas permaneceram no Monte Sinai durante oito meses, de onde partiram em busca da terra prometida. Porém, esta tentativa falhou e o povo de Israel teve que se instalar no oásis de Cades, onde, ainda segundo a Bíblia, viveu durante quarenta anos (este número simboliza no entanto um período muito maior).
A esta altura dos acontecimentos, Moisés compreendeu que não viveria o suficiente para guiar seu povo até o fim do caminho (ver Deuteronômio 31,1). Por isso promulgou as leis que deveriam ser consideradas como sagradas na terra prometida, deu instruções sobre o período de transição após a travessia do rio Jordão, cuidou dos últimos detalhes, fez um discurso de despedida e, finalmente, com alguns companheiros, partiu para o paraíso, "onde corre o leite e o mel" (Deuteronômio 34,1-7).
Até hoje, ninguém sabe onde foi sepultado, o que é bem estranho, porque existe uma detalhada descrição do lugar: "e Moisés subiu então das planícies de Moab para o monte Nebo, até o cume do Pisga... diante de Bet-peor..." Parece impossível que o povo de Israel não tenha se preocupado em encontrar um lugar digno para sepultar seu grande profeta e salvador. Portanto, deve existir pelo menos algum vestígio dele... E, de fato, existe, mas não nas proximidades da Palestina, como seria de se esperar, mas sim no norte da índia.
O Túmulo de Moisés em Caxemira
(...)
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