domingo, 24 de abril de 2011


Um Judeu Curioso sobre JOÃO BATISTA

Jayme Fucs Bar


Contexto Familiar:

Quando eu nasci em 1958 na cidade do Rio de Janeiro no bairro de São Cristóvão, tinha de um lado minha mãe Judia de família Mesoratit (tradicionalistas),imigrantes de uma pequena aldeia judaica da Polônia, do outro lado o do meu Pai , que era uma confusão, pois tanto meu pai como meu avô eram comunistas portanto ateístas! Porem avó Cecília e minha Tia Nelly eram católicas praticantes.

Nesta realidade entre Judeus, Ateístas e cristãos praticante passei parte de minha infância no subúrbio do Rio de Janeiro.

Entre as duas identidades:

De uma lado fiz meu Brit Milá, circuncisado como Judeu, de outro fui de forma clandestina batizado na igreja do Bonfim, e aos 5 anos, quando minha mãe e meu pai saiam para trabalhar, minha avó, me levava a Igreja do Bonfim, para fortalecer minha educação cristã, porem como dizia minha avó Cecília " Você tinha quer ser Judeu mesmo", pois quando me levava a igreja e me apresentava aos santos, Cristóvão, Antônio, a Maria e ao própio Jesus eu chorava e fazia escândalos na Igreja, assustando atė o padre, e dizia que esses Santos me davam medo! A curiosidade que o único santo que eu não tinha medo e gostava era o João Batista. Pelos meus berros e resistências aos santos da Igreja, minha avó Cecília chegou a conclusão "Esse menino não tem jeito vai ser Judeu mesmo" e desistiu de me catequizar ao cristianismo e largou mão para a minha educação judaica por parte da minha mãe

A Descoberta do Segredo da Avó Cecília:

Na verdade não me lembrava nada dessas histórias que ficou como segredo de minha avó Cecília. Eu somente soube desses fatos quando já tinha uns 33 anos e ela resolveu não sei porque me relatar. Essa foi a ultima vez que a vi ainda viva, foi numa visita que fiz ao Brasil, em 1991 já era, casado com com 2 filho e já morava em Israel como Judeu convicto. Minha avó Cecília vai falecer um ano depois desse encontro.



A Procura de João Batista:

A Minha avó Cecília sempre me impressionava com suas histórias, mais esse segredo me surpreendeu, na verdade me trouxe uma grande curiosidade em saber porque entre todos esses santos que me metiam medo porque gostava desse Tal de João Batista?

Com respeito a minha avo Cecília, e por ela me despertar uma grande curiosidade fui fazer minhas leituras para tirar as duvidas desse estranho mistério de minha infância

João Batista Um Profeta Diferente:

João Batista que aqui em Israel ele tem um outro nome "Yahanan Hamatbil" um figura impressionante, porem ate hoje não temos muito conhecimento ou informações sobre ele.

Na Bíblia se relata em poucas palavras de certa forma muito rápida a jornada deste Profeta Hebreu, na verdade um profeta bastante exótico e diferente para sua época. Na minha opinião ele merecia ser um pouco mais estudado, não por ser o própio primo do famoso Jesus ou melhor Yoshua, que o valorizava muito , e ate confirmou de não haver um homem de tanta grandeza e respeito como seu primo o Yohanan.

Família de João Batista:

João – Yohanan pertenceu a uma família de status social , eruditos no estudos da Torá, filho de família de Cohanim, seu pai o sacerdote Zakarias e sua mãe Elisheva da casa de Aarão , moravam numa aldeia a 5 quilômetros do Beit Hamikdash ( Templo sagrado) de nome Ein Karen.
Sua mãe Eliaheva era estérea e já idosa e não teve a sorte de gerar filhos e já não creditavam mais nesta possibilidade de ter um sucessor para os trabalhos no Beit Hamidrash ( Templo Sagrado).


O Milagre de Abraão e Sara se repete:

A Grande curiosidade que como a historia de Abraão e Sara no nascimento de Isaac vai se repetir de novo, e vem como milagre, declarado pelo anjo Gabriel a Zakarias, que fica meio desconfiado dessa dadiva que cai do céu de forma repentina, que o faz ficar "sem palavras" durante os noves meses ate o nascimento do seus inesperado filho, que como pai não terá o privilégio de dar um nome a seu filho único, pois nasce com um nome já definido pelo anjo, que lhe da o nome de Yohanan ( Deus o fez Prodígio, ou Talentoso, ou Gracioso ), que o significado desse nome vai ter na verdade muito o significado na sua vida.

João Batista e sua identificação ao Eliau Hanavi ( Profeta Elias):

Yohanan, antes de ser Hamatbil, vai ser um grande estudioso hebreu, Se identificara muito com o Profeta Elias, (Meu Deus ė ele) talvez sua grande devoção as idéias de Eliau Hanavi,( Elias o Profeta) veio por saber e que estava vivendo num momento meio apocalítico da historia dos hebreus, onde o reino de Israel esta destruído ,e ocupado pelo império Romano, que vai trazer o helenismo e os costumes inaceitaveis pelas tradições judaicas, O rei Herodes o Grande e seus sucessores, não são da família de David, são fidalgos do imperador Romano, a população sofre atos de violência e as mulheres são violentadas, o povo tem que pagar altos impostos, e o templo sagrado esta dominado pela corrupção generalizada da aristocracia dos saduceus e as castas dos sacerdotes subjugadas pelo poder de Herodes, o Reino de Israel não tem uma liderança definida, e o povo esta dividido em quatro grandes e diferentes seguimentos. Fariseus, Saduceus, Zelotes e Essênios.

João Batista a Procura Respostas entre o cêu e a terra

Yohanan, abdica a seu status e conforto, em sua familia, para peregrinar pelo deserto procurando uma resposta ao caos na vida dos hebreus, Vai ao deserto para procurar respostas as suas perguntas que fazia ao Kadosh Baruchu ( O Todo Poderoso). Vive do que tem, e o que pode come gafanhoto, mel e ervas silvestres, se veste somente de um simples casacão de pele de camelo, a Procura de um chamado para fazer uma "subida" ate o Todo Poderoso como fez Elias e Hanoch (A que Deus educa) um subida ,que nunca vira, mas o Todo Poderoso tinha para Yohanan outros planos, vai lhe dar o poder e a gloria de ser o profeta batizador " o Purificador das Almas" e recebera esse seu gentil apelido Yohanan Hamatbil ( João o Batizador) .

A descoberta do caminho como o profeta purificador :

Na verdade essa pratica de banhos espirituais eram muito comum entre os hebreus,mais cada banho tinha significados diferentes, e momentos especiais, talvez tenha aprendido parte desse costume no deserto de Yeuda em Qumeron, onde provavelmente tenha vivido junto aos Essênios que se banhavam, sempre antes da cerimonias e encontros de estudos e escritos da Torá.
Yohanan aprende com os Essênios, mais cria o seu própio modelo de purificação, e banho ritual , onde a purificação vem junto com uma exigência pratica de um compromisso declarado a fidelidade aos mandamentos do Todo Poderoso, e diferente ao costume dos hebreus o faz de forma universal, o socializa deixando de ser um exclusivo ato para os Hebreus , e se torna um ato também para os gentios.
Yohanan vai entender em seu tempo que para salvar os hebreus, terá que também salvar os gentios, para poder salvar toda a Humanidade.
Talvez esse seja o seu segredo de ser muito amado entre o povo hebreu e entre os simples gentios,e isso é que o tornara muito popular e respeitado em sua época.


O encontro entre Yoshua e Yohanan :

Essa sua popularidade ė que levara a acontecer um especial encontro e aproximação com seu Primo Jesus o Yeshua, que de certa forma vai adotar a pratica da doutrina de Yohanan, de socializar os valores do monoteísmo e a sabedoria dos hebreus a toda a humanidade.
Existe uma majestosa e incrível discussão sobre esse tema do Porque Yoshua necessitava ou não de se purificar se era o Messiach? Ou porque participar desse tipo de ato de purificação que de costume do Ato de purificação da Ruach ( do espirito) teria que vir obrigatoriamente junto com um Vidui ( confissão) , Ou Talvez o Vidui ( confissão de Yoshua ) foi a declaração " Ani Hameshiach!" " Eu sou o Messiach" e a pomba branca que sobrevoou essas duas figuras no ato do Vidui(onfissão) veio afirma não somente que Yoshua era o Messiach, mais tambem que Yohanan acabava de cumprir o seu papel como Profeta!

O Sacrifício de Isaac ( Yohanan):


Talvez seja essa uma das questões mais interessante sobre esse famoso encontro entre Yoshua e Yohanan , pessoalmente não encontro uma resposta clara sobre esse tema, mais parece que a partir desse momento acontece um pacto entre Yoshua e Yohanan.
Yoshua adere o caminho da universalidade de Yohanan e Yohanan adere ao caminho da benevolência de Yoshua, e de certa forma Yohanan será um novo tipo de Isaac que se auto sacrificara para dar espaço ao seu Primo Yoshua, Yohanan vai se tornar um Izaak , abdica do seu Eliau Hanavi ( Elias o Profeta) e a essa vontade de subir aos céus numa carruagem de fogo, ou mesmo ter o poder de cortas as cabeças dos atuais "sacerdotes do Baal" considerado por Yohanan como uma verdadeira "raça de víboras" .
Yohanan Habatbil, se transforma no ato do Batismo de Yoshua na personagem de Isaac , pois foi dessa forma que veio ao mundo, e essa seria a forma que deveria deixa-lo ,para se auto sacrificar e abrir caminho a Yoshua.


Yoahanan Cumpriu o seu papel na História:

Yohanan Hamatbil se sacrifica em nome de Yoshua, para nao roubar sua popularidade,e abrir as portas ao Rei das esperânças , e sai no momento certo da história, talvez num episódio trágico surpreendente, sem sabermos nada, quais foram suas palavras finais, sem termos uma preliminar no ato de sua decapitação , uma morte um pouco desconectada com uma real vida de profeta, onde diferente do Sacrificio de Izaak no ato de seu sacrificio nenhum anjo veio segurar a mão sob o machado, talvez porque que a ordem não foi uma prova de fidelidade que queria ter o Kadosh Baruchu ) e sim de escrupuleastes ordem dado pelos senhores do poder , Herodes, Salomé e Herodina, porem o Todo Poderoso, dessa vez não veio para ajuda-lo.
Talvez esse seja o Sentido da causa da morte de Yohanan Hamatbil, ser sacrificado no auge de sua carreira para sair da História , para dar lugar ao seu Primo o Yoshua se torna a figura mais importante e venerado da humanidade.

Yohanan e seus discípulos que sobreviveram na História:

Pensei que aqui terminaria minha pequena Historia sobre essa figura especial que ė o João Batista – Yoahanan Hamatbil, porem em minhas andanças sobre essa extraordinária pessoa descobri algo interessante, e atė muito curioso sobre um pequeno grupo existente no Iraque, que se chama os Mandeím,( ou Mandeismo) , que vem da palavra aramaico ( saberes) que são sequidores de Yohanan Hamatbil , são monoteista,porem não cristãos são no total em todo mundo umas e 70 mil pessoas, e interessante que eles acreditam que o Yohanan Hamatbil ,seja o verdadeiro meshiach, esse interessante grupo que sobreviveram na história, se definem como os percursores de Yohanan Hamatbil, praticam o culto do batismo, e falam um dialeto do aramaico, um dos idioma dos hebreus usado nos tempos de Yohanan.
De qualquer forma aqui consigo cumprir minha promessa com a minha avó Cecília, que não conseguiu me fazer cristão, mais me fez aprender um pouco sobre o João Batista.

Jayme Fucs Bar

terça-feira, 5 de abril de 2011

Uma introdução à Filosofia Espírita - (Na primeira paralela temos a seqüência Magia-Religião, que se desenvolve no plano da afetividade. Na segunda paralela temos a seqüência Experiência-Ciência--Filosofia, que se desenvolve no plano da razão. )

O que é Espiritismo?

Respondida a pergunta sobre Filosofia devemos tratar ligeiramente da natureza do Espiritismo. E nada mais necessário do que isso, porque nada mais desconhecido em nosso mundo do que ele. Fala-se muito em Espiritismo, mas quase nada se sabe a seu respeito.

Kardec afirma, na introdução de "O Livro dos Espíritos," que a força do Espiritismo não está nos fenômenos, como geralmente se pensa, mas na sua "filosofia", o que vale dizer na sua mundividência, na sua concepção da realidade.

Mas de onde vem essa concepção? Como foi elaborada?

Os adversários do Espiritismo desconhecem tudo a respeito e fazem tremenda confusão.

Os próprios espíritas, por sua vez, na sua esmagadora maioria estão na mesma situação.

Por quê? E fácil explicar.

Os adversários partem do preconceito e agem por precipitação. Os espíritas em geral fazem o mesmo: formularam uma idéia pessoal da Doutrina, um estereótipo mental a que se apegaram.

A maioria, dos dois lados, se esquece desta coisa importante: o Espiritismo é uma doutrina que existe nos livros e precisa ser estudada. Trata-se, pois, não de fazer sessões, provocar fenômenos, procurar médiuns, mas de debruçar o pensamento sobre si mesmo, examinar a concepção espírita do mundo e reajustar a ela a conduta através da moral espírita.

"A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem."
León Denis

“A Ciência investiga os objetos exteriores, a Filosofia investiga a si mesma, é o pensamento debruçado sobre si mesmo.”
Herculano Pires

PERFIL DA FILOSOFIA ESPIRITA

I —Introdução

Uma introdução à Filosofia Espírita exige longa pesquisa de suas raízes nas coordenadas da evolução humana: o tempo e o pensamento. A História da Filosofia é um continuum, que nasce da primeira indagação do homem sobre a Natureza e depois sobre a vida e sobre ele mesmo. Da Magia à Religião e desta à Filosofia o pensamento se desenrola numa seqüência ininterrupta de formulações pessoais que se encadeiam em processo dialético. Não existe a seqüência tantas vezes apresentada de Magia--Religião-Ciência-Filosofia. O que realmente existe é um paralelismo de ação mental que parte da primeira tomada de consciência do Mundo pelo homem. Na primeira paralela temos a seqüência Magia-Religião, que se desenvolve no plano da afetividade. Na segunda paralela temos a seqüência Experiência-Ciência--Filosofia, que se desenvolve no plano da razão. Entre as duas, interligando o fluido do sentimento e da razão, temos a faixa de terra da práxis, onde o homem opera desenvolvendo a sua capacidade de manusear as coisas e os seres. Desse manuseio nasce o complexo do Conhecimento, delta em que vão desaguar as correntes paralelas para a fusão que dará forma ao dualismo Cultura-Civilização.

Kercheinsteiner caracterizou com clareza os dois elementos desse complexo com sua teoria da Cultura Subjetiva e Cultura Objetiva. A primeira é o acúmulo de conhecimentos abstratos de um aglomerado social isolado por contingências geográficas. A segunda é o acervo de obras materiais produzido por esse aglomerado. O desenvolvimento da Técnica vai superando no tempo as distâncias dos aglomerados humanos e promovendo as aproximações que determinam a fusão das culturas isoladas num sistema cultural único, já em vias de conclusão em nosso tempo.

Ernst Cassirer mostrou como as culturas desaparecidas concentram-se nas obras materiais que produziram, das quais renascem ao toque de novas culturas, como aconteceu no Renascimento. Os resíduos válidos de antigas e superadas culturas são então incorporados a novos sistemas culturais. A seqüência aparentemente interrompida se restabelece e a acumulação cultural se agiganta, gerando a Tragédia da Cultura, pois o enorme acervo transcende a capacidade de assimilação da mente humana e determina a fragmentação das especializações. Arnold Toynbee assinalou a relação entre Religião e Civilização, que se caracteriza no desenvolvimento dos ciclos culturais. A teoria dos ciclos vem de longe e teve grande voga entre os gregos. Cada ciclo é. uma fase do desenvolvimento cultural, que se encerra para dar início a outro. Do ciclo das Civilizações Agrárias surgiu ciclo gigantesco das Civilizações Orientais, massivas e teocráticas, que se fechou na Pérsia, projetando as suas conquistas na Grécia, onde surgiram as civilizações antípodas de Esparta e Atenas. Roma herdou e desenvolveu ao máximo espólio espartano, em mistura com o florescimento da democracia ateniense, tipicamente filosófica. Plotino deu seqüência ao platonismo tentou realizar a campanha italiana do sonho da República de Platão. Mas o ciclo da civilização greco-romana chegava ao fim. Duas novas civilizações lutavam para definir-se asfixiadas pelo poder romano: a Judaica, na Ásia, e a Celta,, na Europa.

       Foi então que surgiu a Síntese Cristã, infiltrando-se na Europa com seus princípios renovadores, minando o Império Romano em suas bases e encontrando ressonância na Cultura Celta, dominante nas Gálias. O Cristianismo iniciava um novo ciclo, que iria desenvolver-se penosa mas rapidamente, graças à dinâmica social dos seus princípios. O esplendor da Filosofia Grega deixaria na sombra os princípios do Celtismo. Mas Aristóteles já havia advertido que os celtas era o único povo filósofo do mundo. Dois milênios passariam na estruturação dos primórdios da Civilização Cristã, impregnada de resíduos greco-romanos e judeus. Mas as sementes do Druidismo, religião dos celtas, aguardavam no chão da Europa o momento propício à sua germinação. Coube a Allan Kardec um nome druida — revelar a sintonia celta-cristã e anunciar o nascimento de um novo ciclo. Rejeitado pela cultura dominante, como fora Cristo em se tempo, Kardec enfrentou os poderes da época e proclamou o advento da Era Espírita. Elaborou os seus fundamentos, apoiado nas bases tríplices da Ciência, da Filosofia e da Religião. A Filosofia Espírita definiu-se como o fulcro de um novo ciclo da evolução humana. Não se trata de um fato ocasional ou isolado, mas do resultado de todo o processo histórico do pensamento, ou da razão, como queria Hegel, em seu desenrolar na temporalidade.

DO INDIVÍDUO COMO REPRESENTAÇÃO COLETIVA

Na tribo ou na horda, nas civilizações agrárias ou nas civilizações teocráticas, o indivíduo é apenas uma peça da engrenagem social. Fun-ciona segundo as exigências do meio, guiado pelas forças operantes da estrutura sócio-cultural. Denis de Rougemont demonstrou como essas forças determinam a sujeição absoluta do indivíduo à estrutura. Quando ele se reconhece dotado de características próprias, realizando-se na transcendência horizontal. da relação social, destaca-se da massa. Corre então o risco da excomunhão. Mas se dispuser de estrutura individual suficientemente unificada (personalidade) poderá elevar-se sobre o meio, iniciando a fase da transcendência vertical. Nesse caso ele se projeta como uma forma de representação coletiva. Será então o chefe, o líder, o guia, integrando o grupo dirigente da comunidade, a sua inteligência. Mas assim mesmo estará freado pelos condicionamentos sociais, terá de fazer concessões à moral social, aos sistemas estabelecidos, às crenças vigentes, ao contexto geral da tradição. Se quiser sobrepor-se a esses fatores poderá ser esmagado pela pressão da massa, traduzida nas sanções institucionais. Foi o caso de Sócrates, como foi o caso de Jesus.

Nas civilizações sócio-cêntricas do passado, que se desenvolviam isoladas, esse processo de representação coletiva, que na tribo se dividia entre o cacique e o pagé — o primeiro representando o poder humano, o segundo o poder espiritual, fundiu-se na síntese do Rei-Deus, sagra-do e ungido para dirigir e defender o povo. A reação natural à rigidez dessa institucionalização perigosa se fez sentir no campo das manifestações paranormais, através de profetas, oráculos e pitonizas. João Batista degolado por ordem de Herodes é talvez o símbolo mais vigoroso da profecia social como revolta contra a sagração artificial dos reis-deuses. Mas a representação coletiva atingiu o seu ponto máximo na figura do Messias — o sol fecundador das messes após as agruras do inverno, segundo a tese mitológica. Os messias eram os salvadores e ao mesmo tempo os vingadores, os que vinham salvar os humildes e castigar os poderosos. Investidos da sagração divina pelo próprio Deus, centralizavam, na sua individualidade privilegiada, os poderes da Terra e do Céu. Os seus ensinos constituíam uma revelação divina, pela boca desses arautos falava o próprio Deus.

Kardec analisou esse processo e definiu as revelações messiânicas como pessoais e locais, típica das civilizações isoladas, dirigidas a uma comunidade determinada em sua localização geográfica. Nos fins do ciclo de isolamento, quando a síntese sócio-cultural greco-romana tentava abranger o mundo e criava condições novas de vida, o messias judeu, Jesus de Nazaré -- que mais tarde seria designado, significativamente, pelo nome do messias grego: Cristo, apresentou-se ainda como revelador pessoal e local, mas já abrindo perspectivas, em seus ensinos, para a universalidade que caracterizaria o desenvolvimento do Cristianismo, rompendo ao mesmo tempo o sócio-centrismo judeu e as pretensões romanas de hegemonia. A reação, tanto judaica quanto romana, foi esmagadora, mas não conseguiu deter o fluxo natural da evolução humana. A Igreja Cristã, formada segundo os modelos judaico e pagão, por força das determinantes históricas, apresenta-se então como curiosa síntese do Templo de Jerusalém e do Capitólio. A Cadeira de São Pedro substitui, ao mesmo tempo, a Cadeira de Moisés e o Trono de César. O Deus-Pai de Jesus se reveste das características de Júpiter Capitolino e Roma volta a dominar o mundo. O Bispo de Roma transforma-se na representação coletiva das massas bárbaras convertidas ao Cristianismo. Na figura do Papa concentram-se os poderes da Terra e do Céu.

Entretanto, no milênio medieval o processo dialético prossegue, lento e seguro. Um mundo novo está fermentando nas querelas absurdas e uma nova revelação está sendo elaborada nas suas entranhas psíquicas.

A Filosofia Grega inflama o pensamento cristão, despertando-o para a compreensão dos poderes do homem, do valor intrínseco do ser humano. O dogma da encarnação humana de Deus, reflexo das teorias egípcias e indianas do avatar búdico, produz efeitos contraditórios. De um lado, reforça temporariamente o conceito do homem-deus do passado; de outro lado, desperta a atenção dos pensadores para os poderes divinos do homem. A subversão vai se confirmar nessa linha com o desenvolvimento do Humanismo. A Ciência renascerá das cinzas de Aristóteles e o homem se fará o revelador racional dos mistérios encobertos pela mística religiosa.

As revelações pessoais e locais estão definitivamente superadas. Os messias do passado tornam-se místicos ignorantes, incapazes de revestir-se dos poderes da representação coletiva. A Revolução Francesa proclamará a supremacia da razão sobre todo o passado fideísta. Kardec poderá então distinguir dois tipos de revelação, ambos divorciados da mística e do mistério: a revelação científica, feita pelos pesquisadores dos mistérios da Natureza, e a revelação espiritual, feita através da mediunidade e da pesquisa dos fenômenos paranormais, das condições do mundo supra-sensível. A partir desse momento as revelações pessoais, locais ou não, não terão nenhum sentido. A verdade não pertence a ninguém em particular, a nenhum profeta, messias ou vidente. É um patrimônio comum, ao alcance de todos os que se esforçam para descobri-la. A revelação é coletiva.

O indivíduo como representação coletiva existiu e funcionou nas dimensões do passado, como exigência natural de um mundo fechado em si-mesmo, incapaz de superar os condicionamentos sócio-mesológicos de cada civilização isolada, entregue às suas próprias forças. No mundo novo que surgiu da abertura cristã, tendo por paradigma a especulação ateniense e por bússola a mensagem racional do Evangelho, não há mais lugar para a autoridade individual no tocante à problemática da verdade, que brota do real-em-si e não das interpretações individuais, sujeitas a condicionamentos desconhecidos. Nenhum indivíduo transformado em representação coletiva e nenhum colégio de iluminados por sabedoria infusa pode decretar a verdade. A Filosofia dedutiva e sistemática do passado cedia lugar à lógica indutiva, liberta das predeterminações arbitrárias dos sistemas.

II — FILOSOFIA E ESPIRITISMO
1. 0 que é Filosofia?

Trecho acima extraído de:

J Herculano Pires - Introducao a Filosofia Espirita
http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/introducao-a-filosofia-espirita.pdf

SUMÁRIO
PERFIL DA FILOSOFIA ESPIRITA...............................................5

I —Introdução..................................................................................5

II — FILOSOFIA E ESPIRITISMO...............................................8

1. 0 que é Filosofia?.........................................................................8

2. — O que é Espiritismo?...............................................................9

3. — A Tradição Filosófica...........................................................11

III — TEORIA ESPÍRITA DO CONHECIMENTO...................13

1 — Como conhecemos?............................................................13

2 — O que conhecemos?............................................................16

3 — O processo gnoseológico....................................................18

IV — FIDEÍSMO CRÍTICO...................................................19

V — ONTOLOGIA ESPÍRITA...............................................24

VI — EXISTENCIALISMO ESPIRITA.................................31

VII — COSMOSSOCIOLOGIA ESPÍRITA..........................36

Mais Informações:
http://www.4shared.com/dir/c255ZN48/Livros_Espritas.html

http://www.pingosdeluz.com.br/ebooks/

http://evangelhonolar.com/

http://www.kardec.com/

http://www.esnips.com/doc/664555f7-8205-4007-8353-37c573a39e9a/Legi%E3o%20-%20Robson%20Pinheiro

http://www.forumespirita.net/fe/